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sábado, 25 de agosto de 2012

Os Estatutos do Homem by Thiago de Mello.


Natural do Estado do Amazonas, Amadeu Thiago de Mello, é um dos poetas mais influentes e respeitados no pais, reconhecido como um ícone da literatura regional no Brasil e no exterior. Nascido no interior do Amazonas  em 30 de março de 1926. Escreve seus amores com as cores e o cheiro da Amazônia.
Thiago de Mello, tem obras traduzidas para mais de trinta idiomas. Preso durante a ditadura (1964-1985), exilou-se no Chile, encontrando em Pablo Neruda um amigo e colaborador. Um traduziu a obra do outro e Neruda escreveu ensaios sobre o amigo.


No exílio, morou na Argentina, Chile, Portugal, França, Alemanha. Com o fim do regime militar, voltou à sua cidade natal, Barreirinha, onde vive até hoje.
Em homenagem aos seus 80 anos, completados em 2006, foi lançado, pela Karmim, o CD comemorativo A Criação do Mundo, contendo poemas que o autor produziu nos últimos 55 anos, declamados por ele próprio e musicados por seu irmão, Gaudêncio Thiago de Mello.
Como bem define Livros e Afins, em seu artigo "Thiago os Estatutos do Homem" quando fala com intimidade, Marcela Ortolan, coloca no mesmo quadro autor e obra, com todos os sentidos. 
"Sua poesia tem o ritmo da terra, do tempo da Amazônia. Ao ler a sua obra é possível sentir o correr de um rio caudaloso e a canoa deslizando por ele, ouvir o barulho do remo encostando na água.Apesar do seu tempo ter muito da vida amazônica, Thiago fala do mundo todo e daquilo que é próprio do homem. Por isso, sua obra em verso e prosa foi traduzida para diverso idiomas".
Seu poema mais conhecido é Os Estatutos do Homem, dedicado a Carlos Heitor Cony. Onde numa leitura toda particular propõem uma nova declaração dos direitos do homem, com beleza e lirismo. O que na minha opinião deveria ser adotados por todos os povos. Salve Thiago de Mello, longevo poeta contemporâneo. 
Os Estatutos do Homem (Ato Institucional Permanente)
A Carlos Heitor Cony


Artigo I 
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II 
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III 
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV 
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo único: 
O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.

Artigo V 
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.

Artigo VI 
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII 
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX 
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.

Artigo X 
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco.

Artigo XI 
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII 
Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.

Parágrafo único: 
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.

Artigo XIII 
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.

Artigo Final. 
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.


Santiago do Chile, abril de 1964


Fonte:

5 comentários:

  1. Decreta-se que nada será obrigado
    nem proibido,
    tudo será permitido,
    inclusive brincar com os rinocerontes
    e caminhar pelas tardes
    com uma imensa begônia na lapela.
    Muito lindo. Da-lhe Thiago de Mello!

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  2. Acho que eu devo ter acabado de sair do coma rs, como pode eu nunca ter ouvido falar de Thiago de Mello, nossa! Fiquei abismado agora, um poeta de tão grande importância e eu não conhecia. Vou procurar por mais obras dele.

    Abraços

    http://rebobinandomemoria.blogspot.com

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    Respostas
    1. Olá Marcos, obrigada por sua vista e presente. Thiago de Mello é um desses poetas reclusos, conhecido lá fora e quase esquecido aqui. Trata-se de pessoa simples mas de grande sabedoria. Fico feliz que tenha gostado, e vou procurar surpreendê-lo com artigos assim. Admiro a arte destes caras e desencavo-os onde estiverem. Um abraço amigo.

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  3. Muito lindo e inspirador...principalmente o Artigo VII.Parabéns pela postagem!

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    Respostas
    1. Olá Sandra querida, obrigada por sua visita e por seu carinho em compartilhar seu comentário. São lindo e dizem muito os artigo, talvez o
      Parágrafo único:
      Só uma coisa fica proibida:
      amar sem amor.
      Diga tudo.
      Muitas alegrias e o Artigo II para você !!!!

      Excluir