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segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Alguém quer ir para Pasárgada? Acompanhe-me, Por favor.

Quando tudo não vai bem. Quando naquelas ocasiões em que depois de muitas tentativas, ficaram  apenas a senhora frustração e o senhor desânimo. Ai eu penso em Bandeira. 
Ponho um sorriso daqueles, que só quem sabe onde fica o lugar do convite do título acima, pode ter. Bandeira nos falou bem como é lá, de suas delícias e preguiças. Ah quando tudo não vai...É para lá que quero ir. 
Grato ao professor Francisco - para os íntimos Chiquinho - por desafiar meninos e meninas da outrora Escola Técnica Federal do Amazonas, a declamar em público o que pensamos no privado. 
Éramos todos fedelhos sonhando com um presente maior que o dia, felizes por estarem ali e desatentos do mar da vida que nos levaria longe, bem longe daquele palco, onde a platéia atenta aplaudia todas as nossas incursões no mundo das apresentações. 
Foram nossos companheiros naquela empreitada, além de Manuel Bandeira - Vou-me Embora pra Pasárgada, João Cabral de Melo Neto - Morte e Vida Severina e Carlos Drummond de Andrade - E agora José. Coube a mim, em solo, a imensa honra de declamar Manoel, magrela, cabelos em molas. Manoel nem se importou. 
No florescer de nossa juventude, éramos mais que adolescentes, éramos personagens de nossos próprios sonhos e o mais importantes éramos personagens dos sonhos de nossos pais, professores, irmãos e irmãs, namorados, namoradas, amigos e amigas. 
Até quem não conhecíamos sonhava com a gente - nossos maridos e esposas, novos amigos e amigas. Quem não existia também sonhava conosco - nossos filhos e filhas, alunos, colegas, sobrinhos e sobrinhas. 
É bom sonhar, ter sonhos, mas acho que maior que isso é fazer parte dos sonhos dos outros. O que achas? Fiz parte de seu sonho? 
Bons sonhos para todos. Vamos sonhar então com a Pasárgada de cada um de nós.

Vou-me Embora pra Pasárgada
Manuel Bandeira

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.


É o próprio Bandeira quem explica: 
“Vou-me embora pra Pasárgada” foi o poema de mais longa gestação em toda minha obra. Vi pela primeira vez esse nome de Pasárgada quando tinha os meus dezesseis anos e foi num autor grego. [...] Esse nome de Pasárgada, que significa “campo dos persas”, suscitou na minha imaginação uma paisagem fabulosa, um país de delícias [...]. Mais de vinte anos depois, quando eu morava só na minha casa da Rua do Curvelo, num momento de fundo desânimo, da mais aguda doença, saltou-me de súbito do subconsciente esse grito estapafúrdio: “Vou-me embora pra Pasárgada!”. Senti na redondilha a primeira célula de um poema [...].

Notas:
Rosa: mulata que serviu de ama-seca a Manuel Bandeira e a seus irmãos quando meninos. 
alcalóide: substância química encontrada Nas plantas que, entre outros fins, serve para a fabricação de drogas. 

Fonte: 
Google Imagens
Releituras
Brasil Escola
Livro: Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século. Editora Objetiva.

7 comentários:

  1. Quando tudo não vai bem. Quando naquelas ocasiões em que depois de muitas tentativas, ficaram apenas a senhora frustração e o senhor desânimo. Ai eu penso em Bandeira.

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  2. A minha Pasárgada veio, quem sabe, não tão tarde. Bem aqui na América do Sul, pertinho de mim, adentrando os limites do meu corpo. Ela é bem aqui onde amadureci e captei meus sonhos, percebendo que dinheiro nenhum do mundo vale a tranquilidade do olhar, do ver lá fora com o olhar de já ter visto e experienciado e SABER que a experiência valeu! Aqui sou amigo do rei, eu mesmo.
    Aqui me encontrei e sei que para onde eu for me levarei!
    Viajei no seu texto. Abraços!

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    1. Olha amigo, que lindo depoimento o seu. E que lindo ter sido tão sereno e gratificante viver a sua Pasárgada. Quando leio seu texto me vem a cabeça paz e segurança. E certeza. A certeza dos que viveram e estão felizes por ter experimentado os pequenos detalhes. Obrigada amigo Expedito por me deixar fazer parte de seu momento, meu rei.

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  3. Fez sim! Me fez transportar meus pensamentos para um tempo em que os sonhos ocupavam lugar de destaque em nossas mentes e que ninguém podia contrariar esses sonhos :) Beijus,

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    1. Olá amiga Luma. Fico feliz que tenha gostado do artigo. Se me permite vou concorda com você. Houve um tempo em nossa vidas que os sonhos tinham destaque na vida. Hoje em dia a vida esta em evidência - para o agora, já. E o sonho virou...um sonho - algo para depois.
      Obrigada amiga. Bjs.

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  4. Ao embarcar na ilusão
    Senti palpitar meu coração
    Ana,
    Foi inspirada neste poema que a minha Escola de Samba (Portela) fez o Samba de Enredo abaixo.

    Na passarela,
    Um reino surgia
    Quanta alegria
    Desembarquei feliz
    Tudo era fascinante
    Nesse mundo pequenino
    Até relembrei os dias
    Do meu tempo de menino

    Nas brincadeiras de roda
    Rodei pelo mundo afora

    Nesse reino azul (azul)
    Tem tudo o que desejei
    Auê, auê, auê eu sei
    Eu sei que sou o amigo do rei

    Nas ondas do mar, caminhei
    No azul do céu eu voei
    E lá vem ela na avenida
    Cinqüentenária tão querida
    Ô Portela, Portela?
    Na vida és a Pasárgada mais bela

    Samba Enredo 1973 - Pasárgada, o amigo do rei
    G.R.E.S. Portela (RJ)

    Se desejar conhecer, no site oficial da Portela.
    Beijo.

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    1. Eu gosto muito da Portela. Tenho paixão pela águia abre-alás. É linda!!!!! Adoro a velha-guarda cantando com Marisa Monte, o geminiano Paulinho da Viola e o desfile é um baile só.
      Eu não sabia que Pasárgada inspirou Portela. É lindo não? quando duas grandes paixões cruzam suas histórias. Parabéns portelense!!!!!

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