Você já esteve perto de uma pessoa que ao olhá-la você tem a nítida impressão de ela é maior do que os limites do corpo que tem? E circula entre os outros sem ter essa noção e quando você fala algo do tipo como você fez isso? Ele parece que nem ouve sua indagação e responde de forma mecânica algo do tipo: Sorte. Sei lá. Eu só fiz. É fantástico que de quando em vez temos o privilégio de estar bem próximos a estas pessoas.
Foi esta a sensação que tive quando visitei a Casa de Santos Dumont em Petrópolis. Estava de férias em 2006 e com o guia na mão fomos de um lugar a outro da cidade conhecendo museus, igrejas – os vitrais da Igreja de São Pedro, são de arrepiar, praças, feiras, o Palácio de Cristal – o orquidário: lindo a estufa e aquele ambiente úmido de cores, formas e odores que parecem disputar seus olhos e narinas. Do lado de fora do muro de grades baixas, pude imaginar os netos de D. Pedro II, filhos de Isabel, correndo e gritando desembestados pelo jardim da casa de verão.
Procuramos não deixar nada de fora, porém foi a Casa de Santos Dumont que me deixou muda. Primeiro nos recebe um maravilhoso relógio de flores em frente a Universidade Católica de Petrópolis, depois com o guia na mão procurei a Rua do Encanto, no. 22. E me surpreendi ao saber que o endereço que procurava esta a pelo menos dez metros acima da rua. Para quem olha a casa lá de baixo não imagina o que aquelas paredes guardam.
A primeira constatação de que você não esta entrando na casa de uma pessoa comum é a escada. Cada degrau foi recortado como um encosto de carteira de sala de aula. Afinal para quê um degrau inteiro se você pisa com um pé de cada vez. Esta foi minha primeira experiência empírica na Encantada – como Santos chamava o seu lar doce lar.
As salas bem conservadas com moveis originais. Armários, mesas e estantes todos dispostos de uma maneira que aproveite bem o espaço. A maioria fixa nas paredes, uma vez que a casa foi construída num estreito elevado, chamado de morro do Encantado. Daí o nome. Os pisos e as escadas em madeira, super preservados e lustrosos.
Nas paredes quadros e croquis de projetos conhecidos. Inclusive da própria Encantada em todas suas plantas. Há desenhos de outros projetos, como o 14 Bis, primeira aeronave mais pesada que o ar, a voar. Na biblioteca, mais desenhos de ideias geniais. Na parede ao final do corredor um artigo de luxo, nos idos anos de 1918, o telefone de magneto de número 111. Não só usado para falar com a corte e o Imperador, como também para pedir as refeições de um hotel próximo. Santos de propósito não incluiu cozinha em seu projeto arquitetônico.
No mezanino ficava seu quarto, lugar reservado e aconchegante. Tudo muito simples: cama, criado mudo, e um pequeno guarda-roupa. Outro vestígio de que ali morou um gênio foi o banheiro. Com um sistema de aquecimento desenvolvido para banhar-se nos dias frio, desenvolveu o chuveiro quente. Invenção do brasileiro assim como o relógio de pulso, hangar com porta de correr, e por muitos considerado o inventor do avião, dirigível e ultraleve.
Saindo para o lado de trás da casa, encontramos incrustado no telhado e com acesso não muito fácil, uma estreita escada com degraus fixos em uma única haste. Dá acesso ao passatempo do ilustre morador. Ali Santos passava horas observando os astros no seu observatório particular. Quando da minha visita, no observatório tremulava uma vistosa bandeira nacional.
Com uma área construída de não mais de 100 m2, considerando os três pisos, um pouco mais de cinco cômodos, vista panorâmica da cidade. Pensei – nossa estou dentro da casa de um dos mais ilustres brasileiros que contribui para a ciência em mais de cinco invenções. Quanta honra. Foi lá que escreveu seu segundo livro, o autobiográfico "O que eu vi. O que nós veremos". Parecia que o título falava comigo. Circulando entre os cômodos antes de sair, podia ouvir Santos Dumont responder para mim – Sei lá. Eu só fiz. Quando perguntei - Como você fez a Encantada?
Expediente.
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Foi um das grande experiências de minha vida. Esta no mesmo lugar que um gênio brasileiro viveu, é muito emocionante. Recomendo quem for a Petrópolis - RJ.
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